O uso de drones no telejornalismo

O uso de drones em reportagens é cada vez mais comum, seja para registros em fotos ou vídeo. Os primeiros modelos datam da década de 60, mas foi a partir dos anos 80 que os VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) passaram a ser usados em ações militares perigosas para fazer o reconhecimento de áreas por meio de uma visão aérea sem colocar em risco a vida humana (pelo menos de quem os pilotava).

Hoje em dia, os drones são bem populares e considerados por muitos como "brinquedos de gente grande". Adaptados com câmeras ultra modernas, conseguem fazer imagens cinematográficas que antes só eram possíveis com o uso de helicópteros.

No telejornalismo, o uso desses veículos aéreos não tripulados ainda é um campo a ser explorado segundo Alexandre "Borracha", um experiente cinegrafista profissional que, em 2014, começou a se especializar em imagens aéreas sem sair do chão, com a ajuda de drones cinematográficos.


Carreira

Alexandre Borracha começou a fazer imagens aéreas de dentro de helicópteros por volta do ano de 2000, depois de um curso teórico e prático na Record TV em São Paulo no então Águia Dourada, aeronave estilizada da emissora paulista. A oportunidade veio depois de sete anos como cinegrafista na filial do Rio de Janeiro onde trabalhou em reportagens na capital fluminense, em outras cidades brasileiras e também fora do país, como em matérias especiais em Israel e África do Sul.

Em 2010, Alexandre sobreviveu a um gravíssimo acidente quando a aeronave em que estava caiu depois de uma pane mecânica. Ele sofreu diversas fraturas, passou por cirurgias, ficou em coma, mas hoje está bem.

Três anos depois de "renascer", Borracha teve de se "reinventar", já que os trabalhos a bordo de um helicóptero foram suspensos. E o drone chegou em boa hora! "Estou me sentindo um cara realizado hoje com essa nova tecnologia. Eu estou achando fantástico", resume Borracha.


Meu primeiro drone

O cinegrafista conta que o primeiro contato com um drone foi em uma loja de equipamentos profissionais para fotografia e vídeo em Nova Iorque. Era um modelo Phantom 2, um dos primeiros a fazer imagens aéreas acessíveis ao público. "Mas, a câmera não era estabilizada, então fazia boas fotos, mas vídeo era bem precário", relembra Borracha, que mesmo assim comprou o equipamento.

Na época, ele diz que não existiam regras, leis e nem cursos para operar os drones no Brasil. Então, ele recorreu à internet para saber mais desses assuntos e, principalmente, como usar o novo "brinquedo". A falta de experiência custou caro. Borracha diz que já quebrou diversas aeronaves na época em que estava aprendendo a pilotar. "Os vídeos na internet eram dos próprios fabricantes e eram superficiais. Em 2014, a gente trocava experiências com outros operadores e curiosos. Aprendi tudo na raça mesmo", completa. Um dos acidentes foi quando o equipamento voltou automaticamente para o local marcado como decolagem, onde havia uma árvore, e o pouso foi desastroso. Hoje, os drones são mais sofisticados e têm dispositivos para evitar colisões - coisa que não existia no passado recente.


O primeiro trabalho profissional que fez com um drone foram fotos e vídeos do Templo de Salomão, em São Paulo, que estava em fase de construção na época. O trabalho fez tanto sucesso que ele passou a ser conhecido por fazer imagens aéreas profissionais sem a necessidade de helicópteros.

Borracha percebeu que os drones eram tendência e passou a investir nos equipamentos, mas logo viu o crescimento da concorrência desleal. Ele diz que muita gente comprou as aeronaves para oferecer trabalhos de graça, o que atrapalhou o mercado profissional. Mesmo assim, abriu uma empresa, a Universo Drone, e hoje presta serviços para eventos, monitoramento de obras, produções em vídeo para produtoras e emissoras de TVs.


Drones e o telejornalismo

Em 2019, Borracha chegou ao terceiro trabalho de imagens ao vivo com drones em um telejornal (São Paulo no Ar, da Record TV). Ele diz que esse tipo de serviço é muito novo e que, até então, nenhuma outra emissora tinha arriscado a fazer isso. Borracha ressalta que as aeronaves cinematográficas são uma ótima ferramenta para o telejornalismo, mas que ainda existem algumas restrições como, por exemplo, a proibição de sobrevoar áreas periciadas pela polícia ou de desabamentos, por conta do barulho do aparelho que pode atrapalhar no trabalho de resgate das vítimas.

A primeira grande cobertura que Borracha fez com drones, ao vivo, foi uma competição de corrida de cavalos no Jokey Club de São Paulo, no ano passado, para a TV Jokey.

O risco de fazer um ao vivo com um drone em um telejornal é grande porque o equipamento tem pouca autonomia de bateria. É preciso planejar bem antes de cobrir eventos no telejornalismo, mesmo que gravados. O aparelho consegue ficar no ar por 20 minutos, muito pouco se comparado a um helicóptero, que pode ficar horas sobrevoando e captando imagens, além de cruzar a cidade em poucos minutos. Ele conta que o máximo que conseguiu ir com um drone foram quatro quilômetros com segurança, ou seja, conseguiu fazer o aparelho pousar antes de acabar a bateria. Borracha lembra ainda que esses equipamentos conseguem voltar sozinhos ao ponto de partida quando perdem o sinal de conexão com o controlador em terra.

Borracha acredita que faltam muitas melhorias para que os drones sejam usados com mais frequência pelas emissoras de TV. Ele diz que ainda é uma "fases de testes", mas que é um setor promissor, já que é o equipamento veio para somar ao telejornalismo. "Eu acho que um drone nunca vai substituir um cinegrafista. O aparelho serve para abrilhantar ainda mais o trabalho desses profissionais. Todos os cinegrafistas deveriam ter uma aeronave dessas".

 

Equipamentos e legislação

Os drones que Borracha usa são da empresa chinesa DJI. "É um equipamento que está muito em alta hoje e eu gosto de usar essa marca porque o mapeamento deles é muito bom e com áreas restritas a aeroportos, por exemplo. É um aparelho muito seguro e muito bom tanto para amadores quanto profissionais", completa Borracha, que indica o modelo Spark, de 250 gramas e bem eficiente ao público amador. O custo deste modelo é de cerca de R$ 2.500. "Recomendo também comprar mais de uma bateria".


O armazenamento de imagens é feito por meio de cartões de memória micro SD (iguais aos usados em celulares) de até 128 Gigabites em Full HD ou 4K. Por isso, a câmera é o acessório mais caro de um drone.

Sobre legislação, Borracha diz que operadores amadores não precisam registrar seus drones. Já os profissionais, que trabalham com imagens aéreas, devem registrar seus aparelhos na ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil - porque é necessário pedir autorização e apresentar o plano de voo.

Uma curiosidade é que o limite legal de voo de um drone é de 120 metros de altura, pois o limite mínimo de voo dos helicópteros é de 150 metros - assim, o risco de colisão é pequeno. Além disso, todas as aeronaves precisam de um seguro contra terceiros. "Se você for abordado durante um voo e não tiver o registro na ANAC, o seguro obrigatório e nem o plano de voo aprovado, seu drone pode ser apreendido e você pode ser até preso por infringir uma lei", alerta Borracha.

Confira uma amostra do trabalho de Borracha com seus drones:

 

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Instagram: @universodrone

 

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